quarta-feira, 6 de abril de 2011

Paixões Brasileira

1907, éramos muitos, éramos famílias inteiras migrando para um novo mundo, desconhecido. Deparamos com idioma, cultura, pessoas, tudo diferente do que nós respeitávamos, um grande desafio capaz de mudar nossas vidas.
Levamos décadas para nos adequar à nova vida, alguns de nós decidiram voltar para querida terra do sol nascente, nós os fortes e ousados, ficamos, criamos raízes, porém, lutávamos para manter a pureza de nossas famílias, para que não fossem mesclados por esse clima quente.
1950, Hidetaka, Família do meu “amor prometido”, mas como amor, se não há amor?
Quando completei dezoito anos soube que meus pais haviam prometido minha mão em casamento à Augusto Hidetaka, a única coisa que me recordo desse ser é quando o vi em um parquinho de esquina na praça da liberdade, quando éramos crianças, logo após este momento me deixei tomar por uma pura insanidade, meus cabelos eram lisos mas isso não quer dizer que minha fortaleza era fácil de ser escalada, esbravejei, quebrei, só não amaldiçoei, se não fosse por minha mãe e minha avó de conter a minha ofensa à família, porém foi o suficiente para decepcionar meu pai. Saí de casa para me acalmar.
Lembro-me que naquela mesma noite, conheci o encantador Jorge Santiago.
Foi um momento desesperador, mas também foi como um crepúsculo ao inverso. Estava caminhando a uns cinco quarteirões da minha casa quando fui surpreendida por um assaltante, e em um exaltante momento tentava levar minha bolsa, e me ofendia com palavras maldosas, uma situação em que jamais imaginei passar, foi quando resisti, e nesta tentativa ele sacou a arma, mas eis que surge Jorge, e me salva daquele monstro, lutando bravamente para me defender daquele individuo.
Meu sentimento de consolo e proteção foi tão grande que tempos depois, logo após uma briga imensa com minha família que resultou no meu abandono e no início de uma relação entre eu e Jorge Santiago.
A primeira vista um belo conto de fadas, mas será que todos os contos de fadas têm um final feliz, ou de fato, nós é que o fazemos assim?
Começamos uma vida juntos, no começo saíamos, ele me tratava como uma princesa, nunca me deixava só, exatamente tudo que desejei em um homem ele possuía.
Porém assim como as pétalas murcham com o tempo, a fortaleza do nosso amor não escapou desse paradoxo de amor eterno que não dura para sempre.
O tempo pelo qual era dedicado a nós passou a ser do futebol, pois nesta época os estádios estavam cheios de estrangeiros que tomavam a atenção de meu amado Santiago, e fazia de nosso amor uma mera pétala de Sakura depois de toda uma temporada. As brigas começaram e eu já estava cansada dessa mediocridade e da falta de sentido desse homem, resolvi partir.
Agora a vida pertencia a mim, as regras que eram impostas a mim eram minhas.
A vida me obrigou a trabalhar para manter o meu sustento, logo arrumei meu primeiro emprego em uma pequena fábrica de tecelagem.
Nenhum outro ser era tão importante para mim quanto eu mesma, pois eu só tinha a mim mesma. Até que em uma tranquila tarde, voltava para casa do trabalho, quando passei pelo parquinho de esquina na Praça da Liberdade, de onde eu estava avistei um homem com uma postura um tanto nobre brincando com sua filha (da mesma maneira que desejei minha possível filha), quando o mesmo percebe minha presença e se levanta, admira-me por alguns instantes, tenta iniciar uma caminhada em minha direção, mas nesse mesmo momento decido prosseguir meu caminho.
Não sei por que durante a minha caminhada me veio o sentimento de angústia e perda que me fizeram andar mais lentamente em todos os sentidos.

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